Blog criado para participação no programa 'Cidades Criativas', organizado pela U.A. Grupo composto por três alunos (um aluno, duas alunas) do 12º F (turma do curso de Artes Visuais) da Escola Secundária José Estêvão, Aveiro.

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Domingo, 27 de Abril de 2008

Relatório da Actividade “Conferência de Richard Florida”

No passado dia 17 de Abril, o grupo AveiroMinhArte, acompanhado pela professora Teresa Ramires, deslocou-se à cidade de Lisboa para assistir a uma conferência de Richard Florida, mente por detrás do conceito de cidade criativa, que orienta, como é sabido, toda a investigação do grupo.
A conferência tomou lugar no auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, durante o período da manhã, e foi organizada pela Ordem dos Economistas e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo. A presença do grupo foi assegurada pela Dr.ª Carla Gomes, deste último órgão, à qual aproveitamos a ocasião para agradecer todo o apoio prestado ao longo do tempo.
Após uma brevíssima introdução do jornalista e comentador Carlos Magno, Richard Florida começou por referir que iniciou a sua investigação em meados dos anos 80, quando a ideia base do desenvolvimento económico assentava na criação de postos de trabalho para atingir uma potencialização do sistema económico em questão.
Porém, no início dos anos 90, esta ideia provou ser altamente ineficaz, surgindo um conceito de cluster, que, como veremos, iria ser objecto de sucessivas alterações. De certa maneira, Florida chegou À conclusão de que o tal cluster (que vai de encontro às definições de zona industrial tipicamente portuguesa) não funcionaria por si só, necessitando de forma vital de uma dinâmica impressa somente pelo apoio do estado e pela presença de uma universidade ou instituto de investigação que permita posicionar a “zona industrial” no topo da vanguarda e, consequentemente, potenciar o tão desejado crescimento económico.
Atente-se no caso de Pittsburgh. Esta cidade, conhecida pela sua indústria metalúrgica, perdeu, no espaço de um ano, 750.000 pessoas pela estagnação fatal que atingiu a dinâmica industrial. Florida, que trabalhou directamente com esta cidade aquando da sua presença na universidade local, instalou a sua ideia de dinamismo industrial, o que acabou por dar origem a outro conceito de cluster.

As consequências surgiram de forma automática, com a criação de 100 novas florescentes indústrias, da qual se destacava, pelo seu rápido crescimento, a Lycos. Porém, e seguindo um ciclo que se começa a tornar fatalista, a Lycos acabou por se mudar para Boston. Florida acabou por descobrir que isto aconteceu não pela falta de lucros, nem mesmo por condições deficientes de trabalho ou prejuízos a qualquer nível, mas sim pela falta de criativos na zona. Segundo a Lycos, estes criativos eram essenciais ao funcionamento da empresa, já que, em articulação com a investigação universitária, elevariam os níveis de produção a patamares impossíveis com esta definição de cluster, e acabaria por potenciar de forma acrescida o crescimento económico da Lycos.
A teoria vigente até então dizia que à medida que os postos de rabalho iam sendo criados, os trabalhadores iam-se movimentando para o espaço urbano circundante. Porém, estava a acontecer o contrário: os postos de trabalho estavam a mover-se para as pessoas. E a razão para este acontecimento é mais importante do que o salto anterior na teoria do cluster: estava-se a evoluir de uma economia centrada na combinação entre recursos económicos, matérias primas e força de trabalho para uma outra centrada na força das ideias. Estamos a entrar naquilo a que se chama economia pós-industrial ou economia do conhecimento. O centro deste modelo, sendo a supracitada forma das ideias, não pretende, contudo, centrar-se no saber escolástico e proveniente da minoria, mas sim na promoção da criatividade transversal, que parte no director geral da empresa e termina no empregado da limpeza. A optimização de tempo e de recursos e a descoberta de novos produtos e métodos de trabalho são as metas deste sistema. Para Florida, a criatividade é um direito transversal ao ser humano, comparável ao direito à vida, à educação e à saúde.
Relembre-se, neste ponto, que a economia enquanto ciência/área de investigação assenta no pressuposto da inexistência de teorização sem experimentação e por isso são completamente legítimas estas variações nos conceitos e procedimentos conforme as falhas e sucessos vivenciados.
A proliferação deste modelo económico atingiu proporções titânicas, se virmos que:
·               A ‘criatividade’ ocupa entre 20 a 25% da economia nacional, um valor relativamente baixo se tivermos em conta os 45-55% na Escandinávia.
·               150 milhões de pessoas dedicam-se exclusivamente ao sector criativo.
·               O produto económico gerado por esta percentagem da população é imensamente superior ao restante.
Chega-se, através destes dados empíricos, à conclusão de que este progresso em tal espaço de tempo é somente igualável à Revolução Industrial do séc. XIX.
Facilmente nos apercebemos que cada ser humano é um ser criativo. O ‘segredo’, segundo Florida, está em libertar essa criatividade até ao simples operário fabril. A Toyota, tida como o expoente máximo do pragmatismo neste modelo, defende que casa indivíduo é, segundo o economista, “um cérebro de inovação com a possibilidade de melhoramento e progresso contínuos”. Até em agricultura deveria ser expandida esta ideia, segundo o economista.
Reside, contudo, a crítica: porque não poderiam os criativos ter-se movimentado para a Lycos, quando no fim aconteceu o oposto?
Criatividade, segundo Florida, implica tolerância, sem qualquer tipo de discriminação social, racial, étnica, sexual ou económica. Segundo dados estatísticos, um indivíduo é tão mais feliz quanto mais tolerante é o espaço social em que este se encontra. A tolerância e a felicidade conduzem à auto-expressão, condição sin equa non para o desenvolvimento da tão desejada criatividade. Ainda que não nos assemelhe como tal, o espaço urbano em que um indivíduo se insere tem uma importância cada vez maior no crescimento económico desse mesmo indivíduo.
Para comprovar isto, basta ter em conta que as 40 mega-regiões do planeta englobam cerca de 18% da população mundial, ainda que produzam (curiosamente) dois terços de todo o crescimento económico. Lisboa, uma das tais mega-regiões está a concorrer, segundo Florida, não com a Índia ou a China, mas com as outras regiões: Shangai, Tóquio, Londres, Paris-Amesterdão, Boston-Nova Iorque, …
Consequentemente, os países mais abertos e tolerantes são mais inovadores, já que a sua população pode expressar-se mais livremente e estão mais abertos a experiências novas. Resumidamente, e em pé de igualdade, podemos enumerar dois factores que influenciam o local escolhido pelas populações para viver: a existência de um emprego excitante e um tecido social tolerante e aberto presente num espaço urbano agradável.
Enfim, podemos pensar, segundo Florida, no desenvolvimento económico como sinónimo de desenvolvimento criativo, sendo que o espaço urbano ocupa um lugar de destaque nesta conjuntura. Aliás, se pensarmos no título da apresentação (“Os 3 T’s (Tolerância, Talento, Tecnologia) do Desenvolvimento das Cidades/Regiões”), facilmente nos apercebemos que esta ideia resume-se num quarto T que engloba todos os outros: Território.
Porém, sentimo-nos neste ponto, na obrigação de tecer algumas considerações à apresentação conceitual de Florida.
1.            Ainda que Lisboa conste como uma mega-região económica mundial, o conceito de cluster que é aplicado em Portugal perdeu-se algures nos anos 80 norte-americanos. Urge, por esta razão, pensar até que ponto esta classificação é segura de si, ao mesmo tempo que se reflecte sobre as estratégias económicas no nosso país.
2.            A criatividade de Florida estende-se, em última instância, até ao infinito. E isto tem um duplo sentido: se por um lado se pode pensar que as tecnologias amigas do ambiente, mais atractivas visualmente e mais funcionais são resultado natural desta política, a criatividade humana é bastante imprevisível, e um controlo desta criatividade parece-nos inevitável e sem este a criatividade leva a uma ruptura de valores e a um ambiente de conflito. Colocámos esta questão ao economista, ainda que da sua resposta não tenhamos retirado qualquer conclusão esclarecedora.
3.            É também preciso esclarecer, por outro lado, até que ponto é que esta teoria é aplicável ao sector educativo. Será que o conceito de aprendizagem é compatível com esta criatividade? Não terão os aprendentes que deixar de parte o seu eu para aprender e só seguidamente dar conta da sua criatividade? Mais uma questão não respondida pelo sr. Florida.
4.            Retomando o primeiro ponto, parece-nos, em suma, que as ideias de Florida, ainda que extremamente válidas e inovadoras, não se coadunam com a realidade nacional. Portugal tem, de facto, um grande caminho a percorrer e, no nosso entender, um salto de tal dimensão é completamente inconsistente com o conceito de desenvolvimento económico estável.
5.            Para concluir, gostaríamos de referir o quanto nos apraz o facto de o espaço urbano constituir um ponto fulcral para o desenvolvimento da criatividade. O grupo concorda com a ideia, indo directamente de encontro com a linha de investigação produzida por nós desde o início do ano.
O grupo,
Aveiro Minh Arte
publicado por aveirominharte às 18:49
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